Um professor de filosofia me disse uma vez que o homem deve superar as expectativas sociais que o rodeiam. Isso vale pra todos: comerciantes, funcionários, servidores públicos, intelectuais… todo tipo de pessoa precisa responder ao que se espera dele e, de certa forma, superar essas questões.
Quais são essas expectativas nos dias de hoje? Elas variam imensamente, dependendo da classe social, sexo e diversos outros critérios, mas o básico é: que um homem adulto consiga sustentar a si mesmo e sua família.
Ele dizia que isso é importante, sobretudo, para o intelectual, uma vez que este precisa ter enraizado em sua produção filosófica a sua própria filosofia de vida, de maneira que elas fossem uma só. Caso contrário, tudo o que ele produziria seria falso, sem valor e induziria a inúmeros erros.
Para ilustrar essa situação, ele citava o caso de um intelectual que disse que não se preocuparia em cuidar da própria mulher e filhos para poder se concentrar na sua “carreira intelectual”. No final das contas, ele não conseguiu nem um, nem outro: fez uma filosofia cheia de erros, que só afastou as pessoas da verdade, e caiu no ostracismo, morrendo sem ninguém próximo de si.
Internalizei esse ensinamento pra mim e meditei sobre ele diversas vezes ao longo da minha vida: fosse nos momentos que meus empreendimentos davam certo; fosse nas imprevisibilidades da vida, que me desviaram dos caminhos que eu pretendia seguir de início; ou fosse até nos momentos de dificuldades materiais. Eu sempre pensava que eu precisava “superar as expectativas sociais” e cuidar daqueles que eu amava e que estavam próximo de mim.
Mas isso pode levar a outros problemas que surgem depois. Conforme a pessoa consegue um bom trabalho, faz um bom plano de saúde para sua família, passa a andar com um bom carro, compra uma casa espaçosa… corre o risco de que, ao invés dele superar as expectativas sociais, ele acabe ficando preso nelas, apegando-se totalmente a algo que deveria ser meramente secundário.
De repente, a pessoa vira seu trabalho, passa a se importar muito mais com o status de sua profissão e/ou condição social, das coisas que tem, das viagens que faz e de quem é amigo. Com o tempo, começa a trair as pessoas mais próximas por conta desse apego: troca a esposa que sempre esteve ao seu lado por uma mais nova e mais bonita, passa a ver menos os filhos, se afasta daqueles projetos elevados que tinha e, no fim de alguns anos, está totalmente irreconhecível.
A maioria das pessoas que consegue cumprir as expectativas sociais não as supera: fica presa nelas para sempre, num caso típico em que, como diria Tyler Durden, “o que você possui acaba te possuindo”. Estão eternamente presos na camada de saciedade material, e nunca abandonam essas conquistas que agora se tornaram limitantes para finalmente poderem ir a águas mais profundas.
É difícil se desapegar dos títulos, das conquistas, dos bens materiais e de tudo aquilo que, de fato, você conquistou com muito esforço. Mas considerá-los pó é parte da caminhada intelectual que toda pessoa deve fazer se um dia deseja chegar à Verdade e vê-la face a face.