Como a ficção científica muda com o tempo

Foto de cottonbrostudio

É curioso notar que cada época tem uma visão específica do futuro, que reflete as expectativas da sociedade sobre ele. A forma mais clara que podemos ver isso é nas obras de ficção científica, sejam filmes, desenhos, livros, animes e outros.

Nos anos 60, o futuro era imaginado como uma época cheia de construções exóticas, pontiagudas, com carros voadores e tecnologias que faziam tudo o que quiséssemos, como nos Jetsons e em Stark Trek. O futuro era visto como promissor.

A própria cidade de Brasília, no Brasil, tem um pouco desse aspecto na sua arquitetura, seja proposital ou não – afinal, foi inaugurada na mesma época. As expectativas para o futuro eram otimistas, alimentadas pelo maior distanciamento da 2ª Grande Guerra e o nascimento da geração baby boomer.

Uma catedral de verdade em Brasília. Tem coisa mais ficção científica do que isso?

Na década de 80, nasceu o cyberpunk e uma visão mais negativa do futuro imperava. Blade Runner é o maior exemplo disso, assim como o clássico literário Neuromancer. E no Japão, obras desse tipo não faltaram, como Akira e Bubblegum Crisis.

Também víamos monstros de todos os tipos no nosso futuro próximo: seres espaciais ou vindos do futuro com máquinas de destruição, prontos pra acabar com a humanidade – provavelmente um reflexo da guerra fria e ameaça nuclear. Alien, Predator, Exterminador do Futuro e tantos outros.

E as guerras espaciais? Tanto no ocidente como no oriente, imperavam obras desse tipo, como Star Wars (por mais que o primeiro filme seja de 77, os outros dois saíram nos anos 80) no ocidente e Gundam no oriente.

Nos anos 2000, a visão do futuro voltou a ser otimista, fruto da expectativa da virada do milênio: as obras futuristas mostravam espaços brancos e prateados imensos, pessoas usando roupas de couro claramente inspiradas em fetichismo, penteados inspirados em animes… haveria mais conforto, sim, e por algum motivo, todos iam adorar participar de raves e festas com música alta.

Mas apesar disso, ainda havia a preocupação em relação ao papel das máquinas no futuro. Os exemplos que me vêm a cabeça são a trilogia Matrix e Eu, Robô.

Veja o clipe abaixo da música No Scrubs, lançada em 2005. Está tudo lá: as cores, as roupas, os penteados. Esse clipe é uma máquina do tempo. O estilo futurista dos anos 2000 tem até um nome agora: Y2K.

(Não leia a letra se não quiser virar misógino)

E agora, nos anos 20, o cyberpunk ressurgiu com tudo, exemplificado pelo famoso jogo Cyberpunk 2077 e o filme Blade Runner 2049. Predomina uma visão pessimista do futuro, como se não houvesse esperança daqui pra frente, exemplificado também pelos novos filmes de Duna.

A perda de liberdades individuais e nossa presença digital parecem ser temas constantes das obras atuais, em maior ou menor medida. As inspirações no mundo real parecem ser a pandemia, a inteligência artificial e o capitalismo tardio.

A ficção científica de uma época é só uma síntese das preocupações da sociedade em relação ao futuro.

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