“Soberba? — Por quê?… Dentro de pouco tempo — anos, dias -, serás um monte de podridão hedionda: vermes, humores fétidos, trapos sujos da mortalha…, e ninguém na terra se lembrará de ti.” São Josemaria Escrivá, Caminho nº 601
Uma crítica que muito se faz quando se fala do cristianismo é a de que ele é coisa de gente burra, pobre e fracassada. “Os mais inteligentes e ricos, veja bem, não precisam de coisas bobas como religião. Deus do céu, a religião só atrapalha essas pessoas de terem uma vida bem sucedida!”
Cristo veio para todos, mas os soberbos endureceram seu coração e não se voltaram para ele. Do contrário do que se esperava, Ele não quis exercer seu reino neste mundo, com riqueza e honrarias, dominando sobre todos os povos com seu exército.
Jesus Cristo quis viver como um fracassado aos nossos olhos: nasceu numa manjedoura, filho de uma jovem moça e um carpinteiro, ambos desconhecidos. Viveu seguindo a profissão de seu pai até os trinta anos, quando passou a falar aos pobres, leprosos, viúvas, prostitutas e cobradores de impostos. Morreu numa cruz de madeira, com uma coroa de espinhos, humilhado por seus inimigos. Por fim, ao ressuscitar, deixou sua Igreja para um bando de pescadores e analfabetos.
Não caiamos nessa ilusão de que dá pra seguir a Cristo e continuar apegado à soberba em nossas nossas vidas.
Quem eram os principais opositores de Jesus? Os fariseus, que se importavam mais com sua influência na esfera social do que com seu ofício de sacerdote. Certamente eram muito benquistos na sociedade da época, mas esqueceram de seu principal objetivo, servir os outros e ensinar-lhes a Lei.
“Eis um homem sozinho, sem alguém junto de si, nem filho, nem irmão; trabalha sem parar, e, não obstante, seus olhos não se fartam de riquezas. “Para quem trabalho eu, privando-me de todo bem-estar?” Eis uma vaidade e um trabalho ingrato.” (Ecl 4, 7).
A frase bíblica acima resume a distorção que temos das coisas: colocamos os bens temporais como o fim último de nossas vidas: nosso dinheiro, nossa carreira, nosso prestígio social. Mas quando o castelo de areia se desfaz, ficamos sem sentido em nossas vidas.
Muitos podem citar que nós cristãos agimos nos apegando demais ao material, sendo contrários a nossa religião. De fato, muitas vezes somos hipócritas, como os fariseus de antigamente, dando mais valor a demonstrações externas de fé do que à mudança de nosso coração.
A Igreja é sim um lugar aonde encontram-se muitos hipócritas, mas, parafraseando Dom Fulton Sheen, sempre há lugar pra mais um. Até porque, se não pecássemos, pra que precisaríamos de Igreja?
A conversão não nos faz instantemente perfeitos, temos que continuar buscando o progresso na vida espiritual e admitir, como o cobrador de impostos: “Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!” (Lc 18, 13).
O cristão que busca a vida espiritual aprende que a vida vai além do acúmulo de capital e das coisas materiais, e por isso consegue lidar com a vida na pobreza ou riqueza. Claro, acumular patrimônio nos traz benefícios e ela não é condenável (como nos mostra a encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII), mas não é o objetivo máximo em nossas vidas.
Mais vale perder prestígio e manter nossa sanidade do que se vender para a mais nova moda do mundo atual, seja ela qual for. Os fariseus modernos que fiquem com o dinheiro, os prazeres, as ideologias; nós ficaremos com a Verdade.
Esse é um texto antigo, escrito em 2017-2018. Talvez eu pudesse corrigi-lo e postar uma versão melhorada aqui, mas preferi trazê-lo na íntegra original por gostar muito dele.